
Toda vez que eu passava em sua rua ela me fitava, sem expressão no rosto. Porém nos olhos havia um pingo de tristeza que escorria pelo ambiente e que me enchia de ternura e de curiosidade. Ela ficava sempre ali, sozinha, na sua janela, todos os dias.
Um dia tomei coragem e parei. Perguntei seu nome, após congratulá-la. Seus lábios sorriram, mas só depois que ouvira o som da minha voz. E respondeu-me então seu nome, que era o nome mais doce que os meus ouvidos tiveram o aprazível prazer de ouvir. Sua voz era como se fosse de pelica, só que ainda mais macia. Seus cabelos lisos e ruivos contrastavam perfeitamente com sua adorável feição.
Mas algo me chamava ainda mais atenção, depois de sua beleza angelical. Era o seu olhar. Muito embora estivessem astutos, estavam vagos e sem direção. E não paravam de mover-se. Piscavam mais que o normal. Foi só então quando percebi. Lucélia não enxergava. Nos seus olhos correram um filete de lágrima, mas não antes dos meus.